terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Natal, festa da luz

Presépio do Pipiripau (detalhe). Raimundo Machado de Azevedo (1894-1988).
Museu de História Natural e Jardim Botânico, Belo Horizonte-MG

Wiliam Gonçalves*
Aproximamo-nos da solenidade do Natal do Senhor, quando a Igreja celebra a manifestação do Verbo Divino entre os homens. O costume de oferecer presentes uns aos outros pode nos fazer esquecer que o maior presente, e o mais significativo, foi o próprio Deus quem deu: seu Filho se fez nosso irmão.

Pensar um pouco sobre o surgimento da festa do Natal não será supérfluo. O Jesus Cristo da fé é o mesmo da História. A fé cristã está baseada em fatos. Mas é fato que o nascimento de Jesus não se deu há exatos 2013 anos. E o dia 25 de dezembro não é a data histórica em que Maria deu à luz aquele que é a “luz do mundo” (Jo 8,12).

Segundo os estudiosos, Jesus nasceu uns cinco anos, mais ou menos, antes de Cristo. Pode parecer confuso à primeira vista, mas é isto mesmo: Jesus Cristo nasceu antes do início da era cristã. Todavia, a aparente contradição se explica facilmente. Foi só no século VI que se começou a contar os tempos a partir do nascimento de Jesus. Um monge, chamado Dionísio Exíguo, foi quem propôs que o calendário dos cristãos deveria começar com o fato mais relevante da História: o nascimento do Salvador.

Dionísio fez os cálculos e  fixou o ano 753 do calendário romano como o ano 1 do nosso calendário. Mas suas contas estavam erradas. Seu erro, entretanto, nunca foi corrigido. Como o fato mais importante, o nascimento de Nosso Senhor, é um dado histórico inquestionável, não era mesmo necessário corrigir o erro de Dionísio. Além disso, a revolução provocada por Jesus, de fato, divide as eras. Seu nascimento marca a “plenitude do tempo”, quando “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4).

Por volta do ano 350, o 25 de dezembro já havia sido escolhido para a celebração do nascimento de Jesus Cristo no Ocidente. No entanto, os cristãos primitivos não conheciam essa celebração. Como dito acima, a data não é o dia histórico em que Jesus nasceu. Na verdade, não é possível determinar com precisão esse dia. Desde o tempo dos apóstolos, a ressurreição foi celebrada semanalmente. Mas não houve interesse, entre os primeiros cristãos, por uma comemoração do nascimento de Cristo.

A hipótese mais aceita pelos pesquisadores para a escolha da data de 25 de dezembro como dia do nascimento de Jesus é a que afirma que a Igreja cristianizou  uma festa que os pagãos já celebravam. Os romanos, nesse dia, comemoravam o Sol Invictus, que renasce sempre e vence as trevas. A fim de prevenir os cristãos contra a força de atração de um festival pagão, a Igreja teria contraposto a festa do nascimento de Cristo na mesma data. E, para tal, pôde buscar justificativa na própria Sagrada Escritura.

O último livro profético do Antigo Testamento diz: “Para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas” (Ml 3,20). O título “sol da justiça” foi, desde o início, aplicado ao Messias. No quarto evangelho, está escrito que Jesus é “a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todos ilumina” (Jo 1,9). O próprio Senhor afirmou: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12,46).

O Natal é, assim, uma festa ligada ao simbolismo da luz desde sua origem. Foi uma estrela que guiou os magos a Belém. Um dos cânticos do evangelho segundo Lucas, falando daquele de quem João Batista foi o precursor,  afirma: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o Sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,78s).

Um santo e luminoso Natal para todos. Deus seja louvado!


* Professor, licenciado em Filosofia.





Um comentário:

Dona de Mim disse...

QUE BACANA, MEU QUERIDO AMIGO E PROFESSOR! MUITO OBRIGADA POR ESTA REFLEXÃO.
ABRAÇO, ANA